segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008



Recentemente assisti a um péssimo filme chamado “Mais estranho que a ficção”. Não fui até o fim, mas não assista, é o meu conselho. A idéia é potencialmente boa. Uma personagem que luta contra o próprio autor/narrador para não ser morta no final. O nó da história é o fato de que ambos “transitam” pela mesma “obra ficcional” (uma sessãozinha da tarde água com açúcar, digamos a verdade)... a personagem passa a ouvir o autor narrando sua vida, que muda a partir disso. É quase um encontro com Jesuis... :(

O que tem de mais interessante aí, para além do paradoxo ficção-realidade, que tanta gente (melhor que o diretor do filme) já explorou, é a possibilidade de uma visão sobre a personagem como “signo”. Então, mais do que “ser humano”, à personagem do filme cabe a possibilidade de ser interpretada por suas referências à realidade... o “estranho” no filme é que a personagem passa a fazer referência à seu próprio autor e não apenas as coisas normais que cercam sua chata vivência de ser-humano-bem-inserido-na-sociedade-capitalista. É um signo que faz referência a algo um tanto inusitado (ou seja, ao seu próprio criador, mas como um "igual") e que poderia ser melhor trabalhado. Mas a busca da personagem pela autodescoberta-de-seu-criador fica na velha balela norte-america:

Se você não viver um grande amor (perfeitos nos Vinícius de Moraes da vida), se não gozar as boas coisas da vida (- vc sabe, são caras), se não lutar a cada momento para que sua vida faça sentido (mesmo neste mundo tão sem sentido), se não aceitar as regras do jogo (mesmo que sejam tão absurdas) e não lidar com elas até o fim (que não se sabe qual é), então você não é REAL. E, além de não ser real, pode vir alguém (real) e te matar. Aliás, iIsso tem nome: MEDO (mate antes que seja morto), algo muito bem utilizado por gente realmente má, como grandes fazendeiros, grandes empresários e presidentes dos EUA. (deixe-me ser pragmático, please)

Filme péssimo, mas um belo exemplar da inexorável carga ideológica do signos... inexorabilidade que as vezes me dá vontade de entrar num buraco e nunca mais sair...

ps.: se ficou curios@ sobre o filme leia a sinopse, que também é ruim: só não conta o final.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008



No mais distante das matas amazônicas, entre ciprestes e vitórias régias, nasceu um pequeno italiano, que por nome ficou Italiano mesmo. Era filho de dois indígenas que fugiram de suas aldeias e foram ser italianos mais ao norte. Neste tempo, estes pais puseram-se a borrar de urucúm os sons das coisas que conheciam. Descobriram que o universo e a humanidade não dependiam de mais nada para existir.

domingo, 10 de fevereiro de 2008



Quando eu nasci, era só uma boca. O médico falou, “não liga as trompas, não vai vingar...”. Bateram e chorei, mas nunca superei. Quantas vezes me olhei no espelho e voltei do outro lado, de muitos anos atrás, uma criança rechonchuda, dizendo: — não vai sobreviver. Não sobrevivi. São pedaços de mim que se grudaram, mas não sobrevivi. Entre minha cabeça e minha barriga, peitos que não são meus, mas da primeira menina que beijei. Entre as pernas um apêndice que simplesmente apareceu. Que faço da vida com esses pedaços que não se entendem? Que faço? Dôo. Não pedi um pau, não pedi uma língua. Sigo vivendo com retalhos que se estranham. Estranham a mim e aos outros.

— e o que não consola é que os pedaços dos outros sejam tão parecidos com os meus.



- Não, meu filho! De jeito nenhum! Não vou assinar essa porcaria! Você tá louco!? E se te acontece alguma coisa!? Aí vão dizer que a culpa é minha...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Sete anos de pastor Jacob servia




Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se não a tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
dizendo: Mais servira, se não fora
pera tão longo amor tão curta a vida!

(Luís de Camões)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008



minha alma está gorda, só come e descansa
uma voz a carrega: "continue assim, menina."
discretamente penso: isso é coisa do diabo.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008


- Acho que isso seria importante para mim... conseguir me conectar com esse movimento da humanidade... se transformando, se complexificando, se movimentando... às vezes me sinto fora disso tudo... e... acho que isso poderia trazer um sentido para minha vida... me entende?

- Entendo. Mas falamos disso na próxima sessão. Hoje o tempo se esgotou.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008



- Johny, me diga: o que achou de Ulisses de James Joyce?
- Marcos... ora... eu sou um pedreiro!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008



Cabeça vazia, oficina do diabo.